terça-feira, 28 de julho de 2020

(RE) VIVER

Inumeráveis dias e a vida se refaz.
O que era talo hoje já é raiz, folha e beleza.
Assim é a existência. Ninguém cresce sem ter sido cortado.

Simoninha Xavier

domingo, 12 de julho de 2020

CHEGAR

Chegar:
(origem duvidosa)
verbo intransitivo
Vir. Dar entrada em. Atingir, alcançar, durar até. Ir, prolongar-se, ir ter, ir dar.
Bastar. Começar. Conseguir.
verbo transitivo
Ser suficiente para algo ou alguém.

Quando tudo muda, o tempo é o nosso aliado.
Tempo, sempre seremos amigos.
Nunca quis te apressar ou te parar.
Fica aqui e vamos juntos!
Cheguei! Aqui tá tudo diferente.
Tudo que passou, vivi, senti, tá guardado dentro de mim.
Tudo isso me fez a mulher que sou hoje, Menininha que teima!
Antes o cheiro era de canela, num quintal inventado por mim, agora o mar vai chegando aos meus pés e o cheiro é tão bom!
Ah mar...
Agora vamos escrever tudo novo de novo. O tanto de antes guarda pra mim?
Tempo, vamos cuidar um do outro.
E seguir...
De minha parte, vou tentar todos os dias...
#chegar  #ventoquemuda #vidanova #umportoalémdemim

Simoninha Xavier

quarta-feira, 8 de julho de 2020

PARTIR

Partir:
(verbo intransitivo)
Pôr-se no caminho, ir-se embora.
Ter seu começo.
(Figurado)Tomar por ponto de partida.
Emanar, provir. 💔

Simoninha Xavier

terça-feira, 23 de junho de 2020

O MULATO

Sabe a referência de amor?
Sabe a referência de liberdade?
Sabe a referência de cumplicidade?
Sabe a referência de colorido na vida?
O verde musgo de um jeep velho do exército, onde eu subia todos os domingos para ir com ele passear. Comer bolo de listrinha amarela, marrom e rosa, a napolitana, com uma caçulinha, na padaria Vale tudo ou mesmo embaixo do pontilhão, onde ele passava os domingos bebendo, eu via cores no preto e branco xadrez do tabuleiro de damas.
O colorido das capas dos vinis de Djavan, Gal, Maria Bethanis, Caetano, Milton, Chico, Martinho da Vila, Roberto Carlos, que ele espalhava na sala, para me fazer aprender a gostar de música boa. Tudo que sei e apurei de ouvido para a música veio dele.
As traquinagens que ele amorosamente me deixava praticar, quando entrava em sua kombi carregada de cosméticos, onde me escondia para ir com trabalhar com ele. Quantas vezes teve que voltar do meio do caminho, pra me devolver em casa, se atrasando pro trabalho...🤭😬😬.
Sempre me senti tão amada por ele, sempre me deu tanta atenção.
Sempre fez parecer que eu era o seu xodó. Não sei se fazia isso por meus irmãos também, mas para mim sempre fez transparecer que eu era a preferida. Sempre me encheu de carinho minha existência.
Um homem de bem, reservado, criativo, amigo, bom camarada e companheiro.
Mesmo quando ouvi alguém dizer que ele estava agindo errado, eu via que era sem maldade, sem intenção, uma espécie de Robin Hood, um justiçeiro.
Mesmo assim se prejudicou muito.
Vícios e ciclos que ele não venceu.
Mas tenho tanta memória boa dele.
A de protetor é a mais importante.
Duas vezes me marcaram muito.
Uma quando fui assediada por um pedófilo e as pessoas não acreditaram em mim. Ele foi as vias de fato com o meliante.
E outra quando um freguês quis me bater, por insatisfação de um produto comprado no nosso mercadinho, ele também foi as vias de fato com o sujeito. Como um heroi!
Ele é tranquilão, paciente, mas não mexa com ele, não o tire do sério, que é a pior coisa, vira bicho.
Era perfeito nas horas que eu gritava.
Nossos lanches nas tardes de trabalho, era a única coisa que eu gostava ali. Conversávamos sobre tudo, sem censura, sem amarras, ressalvas, por entre os sacos de farinha e caixas de leite. Ele preparava o lanche e me chamava quando estava pronto.
O abraço, o toque, é o mesmo até hoje quando nos reencontramos.
Ele agora está doente, e ouvi que sua neta exigiu que ele não virasse passarinho. Mas para mim ele sempre foi passarinho. Me levava para voar para coisas mais lindas que já aprendi.
Calado, bonito, calmo, sempre foram doces voos, que ele me proporcionou. Ao passo que meu pai era austero, ele era brincante, leve, amoroso.
Fui visitá-lo onde nunca queria vê-lo, numa gaiola. É assim que o vi na UTI, preso.
Tive que me vestir de força para não ser molenga, como sempre sou, mas é bem difícil vê-lo ali, sabendo que não poderei ir visitá-lo todos os dias.
Senti sua voz cansada, meio ofegante, mas a sua pele era macia como sempre. Ficamos ali de mãos cruzadas o tempo todo, chega suou de tanto que apertamos. Não sei precisar quanto tempo ficamos, só sei que por vezes o nó veio na garganta para impedir as lágrimas.
O nosso silêncio fala tanto. Vivemos tanto.
Minha mãe só me deu ele de tio, e é o melhor, o mais afetuoso, amigo, parceiro e meigo.
Ele me chama de Nêga, meu amor... amoooooo. O amor mais puro que tenho na minha vida.
Vou terminar isso versando Djavan para ele, que tanto me ensinou a  amar:
“Por ser exato
O amor não cabe em si
Por ser encantado
O amor revela-se.”

Para meu Tio Nado, Meu amor!
Simoninha Xavier

domingo, 21 de junho de 2020

SER BRUXA

O fio da vida vai unindo os seres, seja pelos pensamentos, que às vezes, um dispensa no outro e se mandam mensagens simultaneamente, seja ao ver a cor preferida do outro, um cheiro, uma música que te remete a um momento, enfim, as afinidades, os sentimentos se fundem e geram essa forte sintonia entre alguns.
Eu amo o sol, o céu, a chuva e seu cheiro, cheiro de mato, cheiro de mar, um mar imenso a minha frente, vaga-lumes que são do mato, mas teimam em surgir no meu quarto do nada, as plantas, a lua e o místico poder de viver. Alguém lembrar de mim, só por saber que gosto dessas coisas, fica reverberando aqui no coração. Tanta sintonia assim é de embaralhar-se.
Dia desses um amigo me disse que eu deveria aprender a ser benzedeira ou bruxa (não sabe ele que bruxa já sou), ao passo que no mesmo instante recebi o vídeo acima. Recebi porque esse vento, esse mato, esse fumacê saindo de dentro desse caldeirão, fez a pessoa lembrar de mim. Diga se não é de vibrar a fé no coração? Não estamos sozinhos nunca, somos encontros e sintonia.
De tão forte que foi, sonhei com minha benzedeira da infância, Dona Cotinha. Quando eu era criança e adoecia, minha vó me levava na casa dela para tirar os quebrantos. Ela que pegava seu galho de pinhão do roxo, um dente de alho amassado num paninho bem branquinho em estofo, ou com alfazema, chumaçando minha nuca, minhas costas, minha testa e meu colo. Eu passava dias sentindo o cheiro daquele alho, misturado com o fumaça que saía do fogão a lenha dela, ela tinha um caldeirão de barro, já preto de tanto queimar e do rolo de fumo, que eu via por ali. Era um cheiro misterioso mesmo, cheiro do bem, que podia até ser ruim, mas era um cheiro bom, cheiro místico da cura. Eu sempre queria ficar lá, ir embora era um problema. Minha vó não me deixava ficar, mas eu viveria no batente da cozinha dela pra sempre, perguntando como fazia aquilo, como podia ser tanta paz, como podia curar? Tinha muitas ervas e temperos, mas usava nos paninhos. Como podia ser remédio, sem ser de tomar?
Quando recebi o vídeo acima, vi e ouvi para curar mais uma noite que seria insone, ouvi repetidas vezes até adormecer.
Tinha passado um dia bem difícil, de saudade do meu pai, de amores perdidos, distantes e de estar longe do meu povo. Foi um presente divino, presente que cura, como era minha Cotinha, por isso que ela apareceu no meu sonho. Ela era uma bruxa. Eu achava aquela casinha um universo paralelo, para mim não era do mundo real. Ela ficava no fim de uma ladeira bem íngreme, eu ia descendo devagar, para ir passando a mão nos dentes de leão pelo caminho, nos pés dos tais pinhões roxos e curandeiros, nos pés de mamonas, margaridas, era uma ladeira barrenta, mas bem florida para colorir minha vida. Até chegar na portinha daquela casinha, eu ia guardando tudo para, sem nem saber, um dia contar ao mundo que eu conheci uma bruxa de verdade.
Sempre quis ser bruxa por isso e aqui estou. Há vintes anos, diante do crepúsculo, fui reconhecida pelo Mago Petrus como tal. Mística, fé, mistério, misturas, segredos, cozinha encantada, desejos, pensamentos, intenções, a alquimia dos quatro elementos da natureza me guiando e a conexão com as pessoas, é tão forte, como a que sinto pela pessoa que me enviou o vídeo. É a mesma sintonia que tenho com minha irmã gêmea de alma. Dá licença, que quero passar com o meu sincretismo. Fé, bruxaria, reza forte, terço, velas, simpatias e soprar canela no dia um de cada mês, eis-me aqui! Sei até fazer céu. Se faltar luz, sou mancomunada com vaga-lumes, garanto noites iluminadas/estreladas onde você quiser seja fora ou dentro de casa, sou dessas, baré, ba, cheba!

Não acredita? Isso é pura ficção mesmo, risos...
Simoninha Xavier

segunda-feira, 15 de junho de 2020

BOLO PUDIM TODO PROSA

Acordei, era frio e cinza o dia!
Chuva, muita chuva, vários atendimentos por fazer remotamente.
Fiz meu desjejum, quatro laranjas e o mais belo tom de amarelo enchia meu copo. A tapioca e o coalho branquinhos, contrastavam com as pedras transparentes de gelo, flutuantes no suco.
O som era de uma rádio local. É preciso seguir, vamos ouvir notícias para se atualizar. Viver é preciso...
Atendimentos feitos, usuários inadimplentes, agora querem que o tempo urja em
plena pandemia. Vamos urgir.
Entardeço no agreste limpando o quarto e entre arrumações e recordações, vou abrindo caixas e estante, revisitando fotos, cartões, bilhetes amarelados, eita que isso desordena os sentimentos, Ave maria!!!!
Saudades e momentos eternizados em fotografias, um rebuliço de sensações.
Em meio aos livros, papeizinhos, receitas soltas, bilhetes sem datas, abro alguns livros e as dedicatórias são lidas com as vozes dos donos... Elas aquecem o coração. Como era mais leve a era analógica. Papeis amarelados, mas decorados e alguns ainda com cheiro invadindo a caixa.
Eis que acho meu caderno de receitas. Está lá: Desde 1985.
Tempo que arriscava as primeiras misturas no mundo mágico da cozinha.
Bolos, tortas, lasanhas, empadinhas de queijo de Tia Nery, bolo Pelé de Tia Zelita, eis que chego no bolo pudim.
Para tudo, vou fazer...
Tem receita mais mágica que essa? Um bolo e um pudim ocupando a mesma forma no forno. Uma calda com açúcar que jamais pode queimar, um liquido clarinho e espumante do pudim e a massa marrom do bolo de chocolate. Você joga ali, inadvertidamente um sobre o outro e eles se encarregam de se ajustarem e respeitarem um a consistência do outro, um a cor do outro, um o sabor do outro. Um que lute para ser pudim o outro para ser bolo fofinho, somente para se deixar embevecer pela calda caramelada que vem lá do pudim, pois com sua leveza e delicadeza, chegou ao topo desse efeito sendo o primeiro a aparecer.
O resultado dessa receita é que o quarto só termino de arrumar amanhã.

Simoninha Xavier

sexta-feira, 12 de junho de 2020

O DOZE DEPOIS DE TRINTA

Sem presente, nem presença.
Sem flores, nem bombons.
Sem jantar, sem vela.
Sem ele, nem ela.
Talvez isso seja no infinito.
Talvez nem infinito exista.
Talvez seja numa quinta dimensão.
Daí nem lembrarão que é dia doze. 
Serão esquecimento.

Simoninha Xavier

Ha 30 anos é assim!


terça-feira, 9 de junho de 2020

TRABALHO REMOTO

Trabalho remoto.
Remoto meu pensamento a que?  A quem?
Remota mesmo está a minha vontade.
Remota às vezes sinto minha força.
Mas (r) existência aqui estou eu!


Simoninha Xavier

sábado, 6 de junho de 2020

TODO SÁBADO É ASSIM

Escrevo meu fazer diário, na certeza de misturar a paz com esse sábado.
Só sei dizer, só sei traçar em linhas, aí douro cebolas, fervo meu sentimento,
meio que confitando a dor, pra ver se ela reduz, como na alquimia da receita.
Mais um almoço e a incerteza do que é o amanhã, sendo a quimera o melhor
ingrediente para os desejos. 

Simoninha Xavier

MEU PAI AGORA É LUZ

As suas caras e bocas, seu humor espirituoso, seu dialeto próprio, que compilei num mini dicionário, seu carinho, amor ao próximo.
Tudo ficou em mim Pai!
Tudo tá guardado e arraigado no meu jeito de ser.
Nesses dias que passamos com o início dessa dor, de te perder em matéria, vi uma onda gigante de amor se formar em volta de você e minha mãe, que foi o que me manteve firme até aqui.
Amigos de perto, de longe, amores que nem sabia ainda da existência, ressurgiram para me ajudar a suportar isso. Agora estarás na imortalidade, sim, tudo que vivemos, tudo que fomos um para o outro, será pra mim amor imortal.
Há dias atrás, falei do quão você era bacana, honesto, íntegro, caridoso e gentil. Deus leu e te quis perto dele. Entendo bem Ele. Sabe escolher bem suas companhias.
Pai, em todas as minhas conquistas via você vibrando. Você me ajudou e me impulsionou aos pulos. Para os saltos que eu dava, sabia que teria alguém pra olhar e me segurar, caso fosse pro chão.
O sentimento de gratidão é tão grande, que nesse momento paira a certeza de que tudo valeu a pena.
Que agora sua caminhada será de mais luz ainda. Capitão Bichara, Vovô Sebastião, Vovó Esther, Angelita, Molequinho e o mulato estarão a sua espera. Só tô pensando na festa que vai ser esse céu, com os amigos que foram antes de você!
Por aqui, voltarei a ser espera pelo próximo dia em que nos encontraremos de novo. Seja pra ouvir radinho juntos, comer uma galinha gorda, pra falar de política ou para eu fazer anotações de novos verbetes que você tenha inventado nessa dimensão que vai estar agora.
Serei espera pelo seu sorriso, pelo seu arrastado de chinela para avisar que está chegando no quarto, pra chupar a primeira manga que caia na temporada ou simplesmente pra sentar na beira da cama e conversar miolo de pote, que amamos.
Pai, obrigada por ter sido sua Pata, Patinha ou perna de inhame.
Obrigada por me amar tanto mesmo sendo eu o que sou e quem sou!
Sua Pata!

Simoninha Xavier

quarta-feira, 27 de maio de 2020

DISTOPIA

Distopia
Tá lá no dicionário:
lugar ou estado imaginário em que se vive em condições de extrema opressão, desespero ou privação; antiutopia.
Estou há cinquenta e três dias em quarentena, ops, então não seria cinquentena? E nesses dias refletindo, percebi que já vivia esse processo bem antes de ser denominado isolamento.
Primeiro me isolei do ter!
Segundo me isolei do sem tempo. Há quinze anos anos o meu maior bem não é um carro importado ou os bens modernos do status que mostram que o indivíduo ostenta felicidade. O meu maior bem é o tempo.
Eu viajo para dentro de mim e vejo, que estou onde quero estar, durmo e acordo e posso até escolher fazer nada num sábado ou ir a feira de artesanato ver o colorido de Caruaru. Ostento esse tesouro, ele é meu, mas é invisível aos olhos dos outros, intangível. Somente eu tenho ciência desse valor. Lógico, que o senhor do destino, tem a fama de cruel, que enruga a face dos fúteis, que não enxergam que o que interessa é o seu sorriso e não os veios que a pele forma ao passo que você vai construindo sua narrativa de vida. Acham ele, o tempo cruel, quando derruba a bunda daquela pessoa fitness, que só comia batata doce e ovo cozido, mas não adianta, ela vai cair para todos. Mas voltemos ao meu isolamento. Desde que decidi morar sozinha, e isso tem quase o meio tempo da minha vida, decidi manter a distância dos que me magoaram, hoje sou até menos cheia de ranços, mas esquecida não sou, ha ha ha.
Nas auroras e entardeceres do Agreste, admiro cada manhã que tenho o privilégio de trabalhar no que escolhi fazer e agradeço a Deus por essa dádiva. Escolhi ser passageira e aprecio todos os dias, durante os dezesseis minutos do meu percurso para o trabalho, a paisagem, a temperatura e as cores agreste do meu lugar. Nunca deixo os motoristas ligarem o ar condicionado do carro de aplicativo. O vento tem que bater na minha cara. A cada retorno para minha casinha, onde construo a mulher que vou me tornando, me permito ver as telas pintadas por Deus, em formato de pôr de sol, cada dia uma diferente.
Faz tempo que enquanto o tempo pede pressa e acelera, eu faço hora. É quase que um ritual, chego em casa, ligo o som, minhas músicas e as letras aleatórias que saem das ondas do rádio, me fazem dançar a valsa no ritmo da vida que sempre quis ter.
Nesses quinze anos, telefonei mais para as pessoas, do que elas para mim, algumas nunca nem atenderam, nem retornaram. Pra ser exata, nesses 14 anos, 11 meses e 6 dias, alguns só telefonaram ou apareceram quando estavam em apuros. Os em apuros sempre acolhi e vou acolher, aos que nunca retornaram, sigam, continuem, avante, vão de retro...
Há os que chegam do nada, há os que te olham e te zelam por essa tela aqui e te puxam dessa bolha, do nada. Há quem somente por existir, por compartilhar uma canção preferida sua, já te estoure a bolha e te faça pertencer ao mundo dele.
Ops, voltemos. Nessa cinquentena entre memes, notícias confusas, saudade dos meus pais, que não vejo desde o carnaval e saudade do mar, percebo que as pessoas realmente não merecem o tempo. Ouvia reclamações constantes e superficiais da falta dele pra treinar, falta dele pra estudar, falta dele pra ficar com os filhos, com a família. Ué, agora o povo o tem. E a reclamação é sobre achar atividade pro filho se ocupar, achar cursos pra fazer, de preferencia com certificado, pra comprovar que não ficou sem produzir. E mais uma vez eu digo: o meu tempo eu que uso, eu que escolho o que fazer, eu que lute! E se eu não quiser fazer nada, assim farei, nada! Sem culpas, sem pressão. Estarei cumprindo minhas obrigações do Home office, mas dê licença, minha oração, minha reflexão, estará nos filmes, que verei, nas canções sentidas e no silêncio necessário, que causa barulhos incríveis em mim. Sou tudo que leio e ouço, vejo e desejo.
Em meio a tanto sofrimento, mortes, falta de rituais de despedida entre parentes e amigos, que foram ceifados pelo inimigo corona, percebo ainda pessoas sem dar importância ao que realmente vale. Sem perceber que tudo tem que levar a transformação.
Temos que ter responsabilidade com o outro.
Sim, tenho o privilégio de poder estar em casa, de estar com saúde, mesmo os meus não estando, mas esse mesmo duro e algoz tempo mostrará a você que chegou até aqui me lendo, que só ele abranda e somente ele dará a sabedoria aos cientistas, para chegarmos a cura. É tempo de esperar, se antes sua pressa não lhe deixava enxergar ao redor as devastações no planeta, é nessa parada, nessa espera, que você terá tempo pra perceber que tem chovido mais, porque estamos em casa, os mares têm respirado mais. Se toque! Os peixes dos rios e mares, estão em cardumes fazendo festas e mais festas, porque não estamos importunando eles. Capivaras nem aí se estão fartas, pançudas ou não, desfilam pelo asfalto, livres de nossas condenações a zoológicos. As medusas enormes, lilases, plenas e lindas nos canais de Veneza, lindas para elas mesmas, pois não precisam serem vistas para se acharem assim. Gatos do mato, ahhhh, estávamos acostumadas apenas aos urbanos, tóxicos, abusivos, que bebem e fumam. Esses do mato, mais dóceis impossível. No Errejota, eles deram de aparecer agora, gente!!!
Ah, o tempo! Desde pequenininha, nunca quis fazer logo quinze anos, ser adulta, sempre valorizei ele ali, do jeitinho que era, tudo do jeito dele, da forma dele. Eu que lutei, eu que vivi, eu que venci, mas do jeito dele, respeitando-o. Engraçado, que sempre ouvi que quero as coisas do meu jeito, mas obedeço a ele, saibam viu!!!
Ele me ensinou a ser paciente, persistente, determinada e leal aos meus desejos e necessidades. Ele me deu o sentido de toda calma, valsa, passo, ritmo, dores e vitórias, afinal nem corro mais, pois esse mesmo tempo me deu um joelho limitado. Somente ele ensina.
A volta que o relógio dá em um dia, faz milagres acontecerem, a fração de segundo causa acidentes inesperados, o prazo de uma fatura realiza desejos, constrói casas, organiza festas. Uma folhinha de um calendário que arrancamos, transforma tudo em início a cada mês. A cada folhinha arrancada, temos o dia um pra rever, planejar, consertar, marcar na agenda o que realizamos e seguir.
A cada virada dessa folhinha você terá uma lua cheia iluminando o seu céu, a maré favorecendo a pesca que alimenta os ribeirinhos e sabe quem move isso tudo. O tão temido senhor dos nossos destinos. O tempo.
O tempo não, mas a pressa, a agonia, a falta de atenção causou toda essa distopia, tava tudo fora do lugar. Que consigamos nesse tempo que estamos em espera, aprender a pausar, olhar, escutar e apreciar os instantes que não param.
Só digo!
Saúde para todos!
Texto do dia 07/05/2020.
Simoninha Xavier

O MELHOR DE MIM

Outro dia li em algum lugar, que a gente é o que junta, mas muito mais o que a gente espalha!
Eu vi a minha vida inteira, na minha casa espalhados: amor, solidariedade, cuidado, caridade, apoio, guarida, festas, muitas festas e mais festas de igreja, muitas cores, união, natais cheio de gente, os melhores natais, almoços gigantescos, casa sempre cheia. Poucas vezes estive na minha casa, sem que não morasse alguém de fora. Nem caberia a lista aqui de tanta gente que foi.
Tenho mais irmãos que os que Dona Nalva pariu, nós filhos temos tantos agregados quanto os que cabiam no coração do meu amado pai, Ézio Dário, seu Casé como o chamamos. É gente pra encher o paito do forró, só digo!
Tava doente eles traziam lá pra casa e muitas vezes davam o tratamento completo, a pessoa só voltava pra casa curada. Tava pra casar? era lá em casa, precisava batizar? era lá em casa também, queria noivar? Porque não lá em casa? Eles já abrigaram família completa, pai, mae, meninos, tudo cabia, na casa de Seu Casé e Lanavia. Já morou lavadeira, já morou a dona da pensão que meu pai ficou logo que chegou no Recife... afilhados, sobrinhos, amigos, conhecidos ou alguém que eles conhecessem só depois que chegasse, rs rs rs... Parece causo né! Mas num é!
Eles são esteio, elo de ligação de suas famílias, seja dos Batista, seja dos Xavier. Resolvem tudo pra todo mundo, desde um trocadinho a material escolar completo. Seu Casé não usa redes sociais, mas seria um grande concorrente das celebridades, se tivesse. O homem tem uma lista infindável de seguidores, e sabe o que é melhor? Seguidores reais, que gostam dele, que ligam, que visitam, que são presentes, como ele e sua Lanávia são na vida das pessoas. Já a Lanavia de uns anos pra cá, domina as redes de comunicação. Cria grupos, messenges, rainha do envio de memes, tem face, whatsapp, instagram, atualizadíssima e antenada, minha mãe, encontrou uma forma de estar mais perto ainda das pessoas por esse aparelhinho mágico. Até ensaiou ser influencer. Eu diria, a véia é virada!!!!
Acho que eles não têm noção da quantidade de afilhados que tem, da quantidade de noivos que casaram, do tanto de gente foram fiadores, das festas de quinze anos, sem falar os velórios, não faltam um (😬), são leais e compromissados com o próximo.
Meses atrás, me deparei com minha mãe indo buscar todos os dias as roupas e lençóis de uma pessoa que estava internada no Hospital Getúlio Vargas, para lavar la em casa, porque a pessoa não tinha apoio em Recife. Não sei se era comadre ou conhecida.
Eis a qualidade maior dos dois. Amar o próximo. Nos ensinaram isso na prática, há cinquenta anos sou testemunha disso.
Se eu conseguisse ser um pouquinho do que eles deram de exemplo, eu zerava a vida com Deus e teria o direito de vir aqui pedir a Ele, por eles.
Mas como não sou nem os dedos mindinhos dos pés, vim somente contar como eles são bacanas, camaradas e como tenho orgulho de ser filha deles.
Hoje uma prima disse, vamos falar de coisas boas! Por isso vim aqui falar deles.
A melhor coisa que tenho na vida!!!!

quinta-feira, 11 de abril de 2019

SOU O ESPINHO

Hoje passei o dia inteiro lembrando de você.
Fui ver um filme e pronto! É nele que você volta, me invade e me rouba.
Não sei mais nada de você.
Algumas fotos, alguns enunciados nas redes sociais e nada, nada mais.
Uma ligação, um oi ao menos.
Um silêncio ensurdecedor.
Treze anos e quantas rejeições foram?
quantos nãos?
Quantas ausências?
A quantas praias não fomos?
Quantos filmes não assistimos juntos?
Quantos jantares deixei de te servir?
E os nossos paraísos? Continuam sem visitas.
E nossas promessas? Todas no campo da oralidade.
E as brigas? Era nelas que eu te conhecia mais.
Nas reclamações sobre meus decotes, você se despia.
Na ingenuidade do seu olhar, de nada adiantava meu arrepio.
Mas foi você que bateu na porta do meu quarto.
Foi você que colou o seu corpo junto ao meu naquela sexta-feira vestida de cinza, só para ficarmos debaixo do edredom.
Agora há pouquinho você me disse não de novo, apenas calado.
E por que eu não consigo te tirar de mim?
E por que não me devolves?
E por que insistes em viver?
Eu não sei o que tem reservado pra mim em caminhada tão solitária. É uma puta sacanagem Ele ter me mostrado você, se não era pra ficar.
Sonho com o dia em que eu falarei de tudo isso com suavidade, mas ainda não se faz hora, talvez eu queira escutar um fado, para fazer doer tudo que já está inflamado aqui mesmo ou coloque Djavan dê um play e ele me diga sobre o amor: “(...)quem tentar seguir seu rastro, se perderá no caminho, na pureza de um limão ou na solidão do espinho.”
Não sei quantas vezes eu terei que nascer para merecer um amor normal, desses que não seja só desencontro, que seja troca, seja possível.
Que seja de verdade!
Porraaaa! Pra que acordei hoje?
Quero dormir até você bater aqui trazendo a chave, a chuva, o bombom, seu sorriso, seu abraço quente e aquele cheiro de menta. 

E o fim disso?
Não vejo fim...
Simoninha xavier