terça-feira, 24 de setembro de 2013

QUERO SIM

Li Neruda uma vez dizer assim: “Abro mão da primavera para que continues me olhando”.
Onde achar hoje esse tipo de amor?
Tanta carência hoje, tanta carência eu...
Cansada de me enfeitar, me colocar balangandãs, me pôr brilhos, barulhos e cores...
Cansada de me vestir de qualidades, se a impaciência se aflora me denegrindo...
Cansada de tentar aceitar os jeitos, mas os jeitos estão cada vez mais trejeitos...
Que mal há em querer você e a primavera?
Mal há na esperança adormecer de vez em quando, isso sim!
Ando sozinha por aí há anos e quero sim as estações,
quero sim o sol me cegando de tão forte, quero sim a chuva me molhando quando esqueço de propósito a sombrinha no sofá, quero sim folhas amarelas nos outonos que quase nem vejo, quero sim a primavera florindo em todas as cores, em todos  os meus sorrisos e em todas as certezas...
Quero mais ainda um amor para clarear, molhar, aquecer, amadurecer e florir sempre.
Quero mais ainda o seu amor, seja você quem for...

Simoninha Xavier  

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A MENININHA

Cheguei à rodoviária hoje e as empresas de ônibus estavam todas com a internet fora do ar, sem vender passagens, ou seja, não tinha hora pra chegar em casa!!!
Gritei aos montes aqui, reclamei, publiquei a foto da fila e eis que liga um querido: um anjo chamado Lucas Hardt, que estando em Recife de passagem pra Serra Talhada, me oferece carona e ainda se oferece para ir me buscar lá, pois estava na Várzea!!!!
Coisas de Deus? sorte? Destino? Em que pensar???
Eu irritada, numa fila enorme, achando que não ia chegar em casa nem tão cedo e aparece esse Senhor das terras, pra me salvar, kkkk...
E assim o foi, quase uma hora depois ele chegou para me pegar como combinado, viemos ouvindo Aviões do forró... Ora para carona recebida, se fecha os ouvidos, kkkkkkkkkkk...
Paramos no Rei da coxinha, comi meu pastel de Belém como sempre e viemos estrada a fora, rumo a Caruaru...
Chegando aqui lhe pedi para me deixar no centro, pois ia comprar alguns remédios na farmácia. A gripe anda me castigando ainda, não consegui deixar todas as mazelas no mar ontem...
Depois de um soapex, um redoxon, um apracur, uma pastilha para garganta e um mel de própolis, fui ao caixa pagar minhas comprinhas viróticas, que fica no início da loja, quase na calçada do estabelecimento, quando me aparece uma menininha com um salgadinho na mão, trêmula, perguntando seu eu tinha visto sua mãe...
Gente, eu me perdi acho que exatamente na idade dela, e não desejo o que senti a ninguém...
Perguntei seu nome, não conseguia responder...
Perguntei o nome da mãe dela, não conseguia responder...
Perguntei de onde ela tinha vindo e tremendo como vara verde, disse que estava na parada de ônibus e a mãe tinha deixado ela lá para ir à farmácia...
Ela dizia o tempo todo: - aqui é uma farmácia? Por que ela mentiu? Ela me deixou...
Na hora, as atendentes da farmácia, já se aglomeraram ali na calçada e invadiram de perguntas a menininha...
Ela se agarrou na batata da minha perna e pediu: - acha minha mãe pra mim, ela foi na farmácia, vamos comigo procurar...
A partir daí quem tremia era eu gente! Esqueci frio, esqueci febre, esqueci gripe, larguei minha mala na farmácia, com o consentimento da gerente, deixando-a de sobreaviso para caso a mãe ali aparecesse e saí pela Avenida Rio Branco procurando a farmácia onde estaria a sua mãe, que nem sabia dizer o nome de tão nervosa...
Quem conhece Caruaru sabe que essa avenida não tem menos de dez farmácias... Mas ela não se conformava em ficar quieta ali, esperando a mãe voltar...
Passou um filme da minha vida e cheguei ao dia que me perdi dos meus pais no Parque de exposição de animais no Cordeiro... Enorme!... Eu queria correr, procurar, gritar por minha mãe, queria achá-la, custasse o que custasse. Parada eu tinha certeza que não ia encontrá-la...
Me tremendo dos pés a cabeça, com vontade de chorar, mas me mantendo firme para não assustar ainda mais a menininha segui por todas as farmácias... Em nenhuma encontramos sua mãe, que ora ela dizia que era morena, ora dizia ter o cabelo curto, mas o nome não saía...
Ela chorava e repetia: mãezinha, mãezinha, porque não me levou junto???
Quando rondei todas as farmácias, sentei um pouco numa calçada, pois quem já estava pilhada era eu, e agarrei-lhe dizendo que eu ia cuidar dela que só ia deixá-la quando a gente achasse sua mãezinha...
Então abraçada a ela finalmente, ouvi um sussurro: JANAÍNA, este nome não é fictício, coloquei de propósito, afinal deve ter muitas dessas por aí.
Ela aceitou voltar para farmácia onde estávamos e no caminho a coloquei no braço, tremíamos as duas... Magrinha, cabelos lisinhos, uma criança linda ali sobre os meus domínios... Que bom Deus que fui eu, não foi nenhum meliante ou aliciador... Aff...
E tremendo já imaginei ir à delegacia, ligar para o meu amigo mototaxista, mas pensando num desfecho ruim, comecei a rezar, mentalizei com muita força o salmo que é meu mantra diário, o 23, e pedi para o anjo da guarda dela trazer sua mãe para nós...
Sinceramente, eu sabia que se fosse a delegacia e não encontrasse sua mãe, iam colocá-la num abrigo, ai ai ai, só de pensar nisso eu a abraçava mais forte ainda...
Eu a abracei tão forte nesse momento que ela perguntou meu nome...
Perguntei o dela e mais uma vez: calou-se.... Que angústia meu Deus!
Eu estava ali agarrada a um ser perdido e frágil que nem pelo nome poderia chamar...
Quando chegamos de frente a Catedral sentei num banco para descansar a dor no meu joelho e na coluna, pois a magricelinha pesava viu!
Quando vimos uma moça se aproximar e falar rispidamente: - mãezinha eu num mandei você me esperar na parada de ônibus? Chegar em casa vai me apanhar...
Olhei pra menininha e perguntei: - você conhece essa moça meu bem?
A tal Janaína: - Conhece sim, ela é minha filha...
Quando olhei de volta ela já estava pulando nos braços da mãe e se agarrando a ela...
Ela esbravejou alguns palavrões, xingou a menina e foi se justificando:
- eu deixei ela na parada de ônibus pra ir comprar um remédio, se levasse ela ia querer comprar mais coisa pra comer e já tinha comprado esse salgadinho, essa menina pede demais moça.
Eu com vontade de dá-lhe uma surra até ela cair no chão, lhe disse que não podia deixar uma criança na rua, que isso era abandono de incapaz, a menina não sabe nem dizer seu nome, nem onde mora, nem telefone, nada! Ela ficou em estado de choque, nem o próprio nome dela me disse...
A infame nem agradeceu, tomou a menininha pelas mãos e saiu arrastando para a parada de ônibus, dizendo que eu não a seguisse que elas iam pra casa agora, depois do susto.
Ah, meu amor, eu segui sim, eu fui sim até a parada de ônibus e eu perguntei de novo a menininha se ela era mesmo a mãezinha dela?
Ela abriu o sorriso amarelo ainda de tanto que tremeu e disse: Janaína, minha mãezinha, agarrando nos cabelos dela...
Mas eu só saí daquela parada de ônibus quando vi o ônibus que ela pegou.
Quando subiu para o ônibus gritou: - Tchau Simoninha... Eu tinha dito Simone e não Simoninha...
Ela estava tão radiante... chorei tudo que o momento pedia...
Voltei a farmácia pra pegar minhas malas aos prantos, agora eu precisava de um calmante, kkkk
Mas meu choro era de alívio, era de felicidade depois da agonia.
Coisas de Deus? Sorte? Destino? Em que pensar???
Eu tinha que chegar à rodoviária e não encontrar ônibus pra viajar, eu tinha que vir de carona e pedir pra ficar naquela farmácia, naquele instante e achar aquela menininha...
Não sei seu nome, sei que pegou o ônibus da Vila Kennedy, o mesmo que eu pego...
Nem sei se nos encontraremos de novo, só sei que nunca mais esquecerei seu rosto, seu abraço trêmulo e essa experiência de Deus que vivi hoje...
Tu és Senhor, o meu Pastor, por isso nada em minha vida faltará...


Menininha do meu coração, eu só quero você a três palmos do chão. Menininha, não cresça mais não, fique pequenininha na minha canção...

Simoninha Xavier

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

NA HORA DO APAGÃO EU FUI FELIZ



Tudo apagado e nós ali comemorando nossa amizade.
Tudo as escuras e nós nos iluminando um ao outro.
Num blecaute regional, nossa luz era interna, os corações acesos.
Os olhos nossos faróis, nos orientando num apagão que nem enxergamos.
Só se vê bem com o coração, já falou um certo principezinho...
E não precisávamos de mais nada naquela tarde, a beira mar beirando meu Beberibe.
Um continente ali enquanto em breu o resto da cidade se virava, na volta pra casa, na descida ou subida dos edifícios, nas esquinas que agora eram mais perigosas ainda e nos lotados ônibus.
Inocentemente ali fomos anoitecendo e foi surgindo estrelas, as lâmpadas necessárias para alegrar nossos inacabáveis assuntos.
O som que tinha era do vento e do tilintar dos talheres, que esse na hora incomodava um pouco minha meia-surdez, mas agora relembrando soa como Vivaldi nessa escrita.
Ah! precisamos de tão pouco para sermos felizes:
Eu ali naquela quinta-feira negra, precisei apenas de Benedito Araújo e um apagão que nem me dei conta...
Precisei do seu sorriso, do seu afago e da sua companhia, meu amado amigo.
Na hora do apagão eu fui FELIZ...

Eis o texto meu amor!!!! 
Simoninha Xavier