segunda-feira, 27 de agosto de 2012

CHAME, CHAME, ENXAME GENTE!


O tempo era o início da década desse século, mais precisamente no ano de dois mil e quatro. Entre girafa, leão, coelho e até camelo eu me esbaldava no jeito folião mais moderno de ser, vestida com meus abadás, atrás de trios elétricos, com seus afetados cantores, que nem precisavam usar capa para serem super-heróis, pois passavam mais de quatro horas cantando para essa multidão zoológica, que ocupa Vitória de Santo Antão.
          Eu vivia o prazer de ser Girafa, apesar do meu tamanho, e de pertencer numa maratona árdua, ao Coelho, ao Leão e ao mais nostálgico, encantador, colorido e autêntico bloco que eu já participei na vida, o da Saudade, que exigia uma fantasia especial, a sua.
Era um ano muito feliz, mais ainda do que os outros três que já havia passado ali naquela cidade onde a bicharada se encontra em pleno carnaval. Tinha encontrado com meu finado irmão e sua esposa, na transição de um bloco pra outro e ele me falou que eu parecia uma santa, kkk... Eu tava de índia e ele me achou com cara de santa, hi hi hi. Acho que já tinha tomado alguns goles de batida de maracujá que o bloco estava oferecendo.
Quem me conhece sabe como fico quando danço, me perco de mim, o que eu sou se afoga, de maneira atroz, passa a ser a minha droga essa paixão por carnaval. Começo e não sei parar, não bebo, nem fumo, meu único crime passa a ser o vício de não poder para de dançar.
Por outro lado amo observar às pessoas, seus comportamentos, as coisas, as confusões de namorados, os descompassados embriagados, os homens bonitos, as paqueras, os amassos, o percurso que particularmente nessa cidade, além de abrigar uma fauna de blocos, tem uma flora linda. É encantador, pois é cheio de praças com árvores e canteiros verdes.
Os blocos passavam pela avenida principal da cidade, Mariana Amália, a rua da matriz, percorria toda a cidade e a volta para a etapa final do percurso subia a ladeira da Duque de Caxias, que tinha um lindo flamboyant, que encandeava de tão vermelho que ficava quando florescia, estávamos eu e meus eufóricos companheiros de folia, quando param o batuque, o repique, a guitarra e a percussão... E ouve-se um estendido psiiiiiiiiiiiu! E ao som do sax bem baixinho, o vocalista avisa: - Pessoal, peço a compreensão de vocês para que fiquemos em silêncio, pois existe nesse momento um gigante enxame de abelhas na árvore da Duque... Eu tava na no pé da ladeira, depois de mim uma multidão, em seguida o trio lá em cima. Eu via o mais que super-herói vocalista cantar: - Por isso chame, chame, chame, chame gente cantando quase que num sussurro até chegar ao ponto de só os surdos como eu entenderem, pois sei ler lábios...
E o chame, chame, chame de gente foi se calando por conta do flamboyant vermelho que ingenuamente se deixou denegrir pelo enxame africano.
Aturdido pelo possível ataque desse bloco que não estava na programação animalesca da cidade, o povo silente saía do cordão de isolamento para dar espaço à alegoria mais linda que vi na festa momesca até então: O Carro do Corpo de bombeiros, nossa!  E que Corpos, hi hi hi.
          Eles ali na minha frente desfilando garbosamente, com seus fardões e capacetes, passando lentamente para não espantar a colmeia negra e eu perplexa pela beleza desse instante: O chame, chame, chame gente quieto, ouvia-se apenas o barulho do motor do carro alegórico que enchia minha vista, do motor do trio elétrico, e o zumbido daquele denso exército inimigo negro que permissivamente se  aninhavam no rubro flamboyant.
Às vezes eu ouvia o barulho de algum pássaro que teimava em perturbar esse momento onde uma massa de pierrôs, colombinas, palhaços, piratas e bichos variados se mantinham concentrados para não atrapalhar a operação de captura desse mais novo bloco, até então intruso na cidade. As carinhas de felicidade se transformaram em máscaras de terror, menos a da índia aqui, que enfeitiçada começou a observar que com o passar do corpo de bombeiros, os foliões iam voltando pra dentro do cordão de isolamento num silêncio que mais parecia um vácuo naquele carnaval mágico. As pessoas andavam e não faziam um ruído que fosse. A sensação que se tinha é de que nem ar tinha...
Já no domínio da coalizão, vi os bombeiros invadirem aquele gueto resistente à luta e a ladeira ali, repleta de foliões perplexos, observando o ato de heroísmo deles. O povo parecia um prisma colocado ao sol, as cores se mexendo num movimento furtacor.
 Não se sabia ao certo qual enxame estava sendo capturado, o negro ou o colorido por tamanha acuação destes. Isso durou alguns minutos, o espetáculo que se formou a minha frente eu jamais esquecerei. O flamboyant foi ressurgindo com suas flores tão vermelhas quanto antes, enquanto os bombeiros iam encaixotando aquela multidão de abelhas africanas, até não sobrar uma sequer...
Somente quando o carro alegórico concluiu sua apoteótica apresentação e saiu da passarela, ouvi novamente o som do sax bem baixinho, agora o nervoso herói vocalista, dizia: - Pessoal! Rezemos: Santo anjo do Senhor, meu zeloso guardador... Isso mesmo ele rezou a oração do anjo da guarda e em seguida embalou a minha canção preferida de carnaval de todos os tempos:
Quanto riso! Oh quanta alegria! Mais de mil palhaços no salão... Em lágrimas de emoção vi o chame, chame, chame gente em pleno movimento e a ladeira se transformar de fato num prisma em turbilhão. E o que é sinônimo de agitação, folia, anarquia, se transformou pra mim num dos momentos mais encantadores que já vi num carnaval. E, diga-se de passagem: Eu havia parado de brincar um tempo antes por conta de uma violência que presenciei dentro de um bloco na capital.
Ali pude ver novamente poesia e cor. Era terça-feira, meu ultimo dia na cidade e o meu ultimo carnaval. Uma memória encantadora. Vi um flamboyant ingênuo, que mesmo tendo a fantasia mais linda para aquela ocasião, resolveu se vestir de negro e se frustrar por não poder lançar mais um bloco de bichos na cidade: O Abelha. 
Simoninha Xavier

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

TUDO POR UM BANHO QUENTE NUMA NOITE FRIA DE AGOSTO

Sempre tive cisma com eles. Já encontrei de várias espécies, brancos, caramelos(antigões), pendurados em gambiarras coloridas de fios, enfeitados com aquelas horrorosas fitas pretas isolantes, aterrorizadoras, dando sinais de choques certeiros.
Tem uns que quando você liga quase não cai água e quando cai é lhe queimando a pele, outros têm até jato forte, mas não esquentam, hi hi hi... Mas o pior é ficar o tempo todo regulando a ducha para não sofrer choque térmico, por estar quente demais ou frio demais. Ainda mais nessa cidade e nesse mês de tanto vento, dentro desse apartamento. Aí vem a surpresa quando você consegue vencer seu estado e encontrar o estado ideal da água... De repente: tuummmmm e pronto desce uma água gelada de doer os ossos... E o pior que você tem que concluir seu banho, que até então você conseguiu, mesmo que por alguns segundos, relaxar...
Estou me enchendo de um ódio quase mortal por objetos dessa espécie, sejam eles blindados (que não presta do mesmo jeito), sejam eles pressurizados, etc., os quais convivi nesses últimos seis meses.
Ah, eu não tenho uma tina, nem um Nacib para dividir um banho relaxante. Ora fico espreitando a hora para tomar um banho gelado mesmo, ora eu, o balde e a cuia temos que criar certas intimidades, kkk.
É incrível como um objeto inanimado, abjeto pode desamparar você, domina seu dia, te enche de dúvidas: O erro é de instalação? É da fiação do ap? É das indústrias? 
Você chama o cara que instalou e ele não pode vir de imediato, só daqui há quatro dias...PUTZ! Lá vai... Eu, o balde e a cuia, criar laços novamente...Por quanto tempo hein? hi, hi, hi.

Simoninha Xavier