segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

CARUARU – RECIFE – CARUARU


Interrogada sobre se já estou acostumada de fazer o trajeto Caruaru – Recife – Caruaru, por um amigo, que foi uma doce surpresa em 2013, lhe respondi que essa odisseia me faz colecionar várias histórias e aprendizados e me deu vontade de escrever sobre isso.
Na verdade o que para maioria é um suplício, um desconsolo da plebe, para mim são roteiros de filmes, ver as cores, as etnias que me avizinham em poltronas apertadas (mesmo só viajando em linha executiva), cada vez mais me instiga e me interessa. O costume quase sempre não se acostuma a mim. Adoro contar os quilômetros numa viagem; ler a vida de um galã em outra (estou lendo a biografia de Gianechinni); tem graça até me aborrecer com algum DJ que teima em ouvir seu rap sem fone de ouvido, mesmo eu ou alguém fazendo cara feia pra ele. Melhor ainda é ver um cara gato subir e torcer para que eu seja a felizarda de vê-lo sentado do lado.. que ops! Aconteceu agorinha nessa viagem que vos narro. Ô sorte, que dura pouco meu Deus! Ele deu boa tarde, ajeitou o fone de ouvido rebaixou sua poltrona e deitou-se para mostrar que não queria papo e iria cochilar... Eu nem ligo mesmo, tô lendo o Reynaldo mesmo... risos solitários num ônibus com quase sua lotação esgotada.
Já saí de Recife bem cedinho querendo chegar logo em casa e só cheguei a tardinha com um ônibus quebrando, depois outro, como se fossem escalas e conexões. Numa outra sentei numa janela e um cara na outra do outro lado do corredor e nos fitamos de Caruaru até a estação do metrô antes da minha... Um ser lindo que não sei se terei outra oportunidade de reencontrar na vida.
Agora escuto um vendedor que grita (grita mesmo): olha a água... Se não levar vai morrer de sede.
E lá vem a sorte, nesse barulho, o vizinho gato abre os olhos, pergunta se pode abaixar o braço da cadeira e com a minha afirmativa ele já engata: -em quanto tempo chegamos no Bonanza? Ele para lá?...Eu toda cheia de mim respondo: - é a minha parada querido! Pode ficar tranquilo que te aviso a hora... (mais risos solitários no ônibus agora com a lotação completa).
Ele volta a colocar os fones e se ajeita, dessa vez com o braço apoiado e volta a cochilar, não vendo que eu também estava com fones de ouvidos, que podia ser que também não quisesse ser incomodada...(eu difícil, ham???) kkk...
Uma coisa é certa: quase nunca durmo nessas viagens, pois se dormisse não colecionaria esse texto. Já fiz o percurso inteiro chorando, já o fiz falando no celular por mensagens, já coloquei no colo uma das duas crianças que uma mãe, por economia, queria trazer no colo em uma única poltrona, já vim quase sem respirar por ter algum sujinho do meu lado. Enfim, viajar de Recife com destino a Caruaru há quase oito anos atrás e depois repetir isso dezenas de vezes, com um caminho inverso, me faz ver nos 135 quilômetros que viajo constantemente um destino que jamais ousei traçar... Deixei me levar...

Simoninha Xavier

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A LAVADEIRA DA ALMA


Desde que pisei em Caruaru para aqui viver, já se vão sete anos e nove meses e nesse primeiro dia, conheci Maria, que se tornou minha lavadeira desde que morei num hotel da cidade.
A doce, afobada, forte e pura Maria pega minha roupa suja num dia e oito dias após me entrega cheirosa, macia e pronta para a batalha de novo.
Ela tem três ajudantes, um mototaxista que traz minha trouxa de roupa para onde quer que eu me mude em Caruaru, a sua filha albina, Dayse a quem carinhosamente eu e Benedito Araújo, chamamos de Sivuca e o filho Leandro, que vi pequenino(apaixonado por mim, segundo a mãe) que hoje é um homem danado de atraente e encantador... kkkk
Ela, a Maria! Acabou de sair daqui, comumente é algum dos filhos que traz a trouxa, raramente ela vem e quando vem é uma alegria só. Desabafa seus problemas, solta as queixas da filha, sem esquecer as do filho e assunta sobre minha vida. Se preocupa com meus dias, se estou bem e um monte de coisas, enquanto isso o motoqueiro lá embaixo do prédio a esperar que matemos a saudade uma da outra.
Ela fala: Meu Deusi Simone, tua vida é muito corrida...
Fala também: Quaje nunca nois se vê...
Mas é uma lição de vida. De dia trabalha como babá e faxineira, cuidando de dois bebês e a noite se dedica a deixar minhas roupas lindas e cheirosas.
Hoje ela me falou uma coisa que fiquei encantada: Simone, você parece bruxa, num sei que vai ser de mim, se tu deixar de lavar roupa comigo. Eu lavo com tanto gosto, tenho tanto orgulho que tu me contratasse, num me abadona nunca visse. (adoro quando ela fala o verbo abandonar, usando ABADONAR)... E me deu um lindo e doce sorriso e disse: Ei tu vai pra Boa viagem né? andar naqueles trios animados do Ricife... kkkkk

Moral da história: Não sabe ela que eu preciso mais dela do que ela de mim...
Ah, minha doce Mariazinha, essa é minha lavadeira de alma, isso sim...

Simoninha Xavier