A vida é a arte do encontro, embora haja tantos
desencontros, já dizia o poetinha Vinícius.
Essa máxima me acompanha sempre.
Esbarro em corpos pela cidade, pelo trabalho, pelos ônibus e pela vida. Desses encontros, alguns poucos
ficam e também alguns poucos se vão...
Há mais ou menos cinco anos, moro no bairro Kennedy e de lá
para ir ao trabalho tenho várias opções de ônibus. Eis que várias dessas vezes de ida a minha
jornada, sempre encontrava um rapaz de sorriso lindo, mas um pouco tímido
demais para minha tagarelice. Porém como várias vezes sentamos juntos, ele
resolveu quebrar o gelo. Depois das apresentações iniciais o papo rolava
solto... Crise financeira, calor, educação, trabalho, tudo era mote para
conversas deliciosas. E assim foi por
meses... Ano passado, porém me afastei por seis meses de Caruaru e nunca mais
havia encontrado ele, até que na volta das férias desse ano, nos encontramos na
rua. Ele viajando e eu chegando a Caruaru. Daí ele me deu seu número de
Wathsapp...
Falávamos-nos inocentemente nessa ferramenta tão boa de
juntar pessoas. Mas eu preferia as conversas das viagens de ônibus, olho a
olho, com interrupções e discordâncias, kkk... Nossa! Discordávamos bastante,
mas era tão respeitoso o desfile das opiniões, que daria um samba lindo, mas
também combinávamos no gosto pelas plantas, pela cor verde, por cinema, por
música, Bethânia especificamente e por banho de rio.
O vi na última vez dia 19 de março. Cantamos juntos a música:
Tomara que chova, três dias sem parar” pois era dia de São José e torcíamos por
um inverno duradouro, por uma safra boa e por uma tarde fria e um filme em
nossas casas, que íamos sortear qual seria a primeira: a minha ou a dele.
Depois daí o último contato foi pelo Whatsapp. Ele me
informando que estava indo trabalhar à tarde, mas que em abril voltaria a me
ver... Meu nome passou a ser ESPERA...
Eis que recebo uma ligação do seu número, mas era sua irmã,
me avisando que ele estava na UTI do Hospital Regional, sendo tratado de uma
infecção que adquiriu num tratamento de canal. Uma bactéria estava alojada no
seu coração, então ele pediu para que me ligasse e que eu fosse visita-lo e
fui... Mas chegando lá, não me deixaram entrar, pois não tinha ninguém da
família para autorizar.
Vim embora sem vê-lo, aquele sorriso, aquela doçura, aquele doce
encontro na minha vida... Como pode?
Exatamente uma semana depois tive que ir a Recife e na volta a mesma ligação, a
mesma voz me avisa que ele se foi e que havia sido cremado naquela tarde (falamos
sobre isso numa das nossas viagens, queríamos ser cremados).
Ele se foi e nem o vi de novo, só no dia que deveria
chover...
Ontem foi sua missa de sétimo dia, tinha obrigação de ir. Conhecer de perto
pelo menos sua irmã e os seus.
Querido, tinha falado sobre isso com uns amigos, numa
segunda feira antes, a vida é a arte do encontro, mesmo com tantos
desencontros...
Não sei quando nos veremos de novo, mas sei que o que tivemos foi de uma
amizade, de uma força e de um afeto divino.
Esteja onde estiver que você me ilumine com a luz do seu sorriso de sempre.
Como disse antes, poucos se vão e você ficará.
Dedicado a Heitor
Simoninha Xavier