Cheguei
à rodoviária hoje e as empresas de ônibus estavam todas com a internet fora do
ar, sem vender passagens, ou seja, não tinha hora pra chegar em casa!!!
Gritei aos montes aqui, reclamei, publiquei a foto da fila e eis que liga um
querido: um anjo chamado Lucas Hardt, que estando em Recife de passagem pra Serra
Talhada, me oferece carona e ainda se oferece para ir me buscar lá, pois estava
na Várzea!!!!
Coisas de Deus? sorte? Destino? Em que pensar???
Eu irritada, numa fila enorme, achando que não ia chegar em casa nem tão cedo e
aparece esse Senhor das terras, pra me salvar, kkkk...
E assim o foi, quase uma hora depois ele chegou para me pegar como combinado,
viemos ouvindo Aviões do forró... Ora para carona recebida, se fecha os
ouvidos, kkkkkkkkkkk...
Paramos no Rei da coxinha, comi meu pastel de Belém como sempre e viemos
estrada a fora, rumo a Caruaru...
Chegando aqui lhe pedi para me deixar no centro, pois ia comprar alguns
remédios na farmácia. A gripe anda me castigando ainda, não consegui deixar
todas as mazelas no mar ontem...
Depois de um soapex, um redoxon, um apracur, uma pastilha para garganta e um
mel de própolis, fui ao caixa pagar minhas comprinhas viróticas, que fica no
início da loja, quase na calçada do estabelecimento, quando me aparece uma
menininha com um salgadinho na mão, trêmula, perguntando seu eu tinha visto sua
mãe...
Gente, eu me perdi acho que exatamente na idade dela, e não desejo o que senti a
ninguém...
Perguntei seu nome, não conseguia responder...
Perguntei o nome da mãe dela, não conseguia responder...
Perguntei de onde ela tinha vindo e tremendo como vara verde, disse que estava
na parada de ônibus e a mãe tinha deixado ela lá para ir à farmácia...
Ela dizia o tempo todo: - aqui é uma farmácia? Por que ela mentiu? Ela me
deixou...
Na hora, as atendentes da farmácia, já se aglomeraram ali na calçada e invadiram
de perguntas a menininha...
Ela se agarrou na batata da minha perna e pediu: - acha minha mãe pra mim, ela
foi na farmácia, vamos comigo procurar...
A partir daí quem tremia era eu gente! Esqueci frio, esqueci febre, esqueci
gripe, larguei minha mala na farmácia, com o consentimento da gerente,
deixando-a de sobreaviso para caso a mãe ali aparecesse e saí pela Avenida Rio
Branco procurando a farmácia onde estaria a sua mãe, que nem sabia dizer o nome
de tão nervosa...
Quem conhece Caruaru sabe que essa avenida não tem menos de dez farmácias...
Mas ela não se conformava em ficar quieta ali, esperando a mãe voltar...
Passou um filme da minha vida e cheguei ao dia que me perdi dos meus pais no Parque
de exposição de animais no Cordeiro... Enorme!... Eu queria correr, procurar,
gritar por minha mãe, queria achá-la, custasse o que custasse. Parada eu tinha
certeza que não ia encontrá-la...
Me tremendo dos pés a cabeça, com vontade de chorar, mas me mantendo firme para
não assustar ainda mais a menininha segui por todas as farmácias... Em nenhuma
encontramos sua mãe, que ora ela dizia que era morena, ora dizia ter o cabelo
curto, mas o nome não saía...
Ela chorava e repetia: mãezinha, mãezinha, porque não me levou junto???
Quando rondei todas as farmácias, sentei um pouco numa calçada, pois quem já
estava pilhada era eu, e agarrei-lhe dizendo que eu ia cuidar dela que só ia
deixá-la quando a gente achasse sua mãezinha...
Então abraçada a ela finalmente, ouvi um sussurro: JANAÍNA, este nome não é
fictício, coloquei de propósito, afinal deve ter muitas dessas por aí.
Ela aceitou voltar para farmácia onde estávamos e no caminho a coloquei no
braço, tremíamos as duas... Magrinha, cabelos lisinhos, uma criança linda ali
sobre os meus domínios... Que bom Deus que fui eu, não foi nenhum meliante ou
aliciador... Aff...
E tremendo já imaginei ir à delegacia, ligar para o meu amigo mototaxista, mas
pensando num desfecho ruim, comecei a rezar, mentalizei com muita força o salmo
que é meu mantra diário, o 23, e pedi para o anjo da guarda dela trazer sua mãe
para nós...
Sinceramente, eu sabia que se fosse a delegacia e não encontrasse sua mãe, iam
colocá-la num abrigo, ai ai ai, só de pensar nisso eu a abraçava mais forte
ainda...
Eu a abracei tão forte nesse momento que ela perguntou meu nome...
Perguntei o dela e mais uma vez: calou-se.... Que angústia meu Deus!
Eu estava ali agarrada a um ser perdido e frágil que nem pelo nome poderia
chamar...
Quando chegamos de frente a Catedral sentei num banco para descansar a dor no
meu joelho e na coluna, pois a magricelinha pesava viu!
Quando vimos uma moça se aproximar e falar rispidamente: - mãezinha eu num
mandei você me esperar na parada de ônibus? Chegar em casa vai me apanhar...
Olhei pra menininha e perguntei: - você conhece essa moça meu bem?
A tal Janaína: - Conhece sim, ela é minha filha...
Quando olhei de volta ela já estava pulando nos braços da mãe e se agarrando a
ela...
Ela esbravejou alguns palavrões, xingou a menina e foi se justificando:
- eu deixei ela na parada de ônibus pra ir comprar um remédio, se levasse ela
ia querer comprar mais coisa pra comer e já tinha comprado esse salgadinho,
essa menina pede demais moça.
Eu com vontade de dá-lhe uma surra até ela cair no chão, lhe disse que não
podia deixar uma criança na rua, que isso era abandono de incapaz, a menina não
sabe nem dizer seu nome, nem onde mora, nem telefone, nada! Ela ficou em estado
de choque, nem o próprio nome dela me disse...
A infame nem agradeceu, tomou a menininha pelas mãos e saiu arrastando para a
parada de ônibus, dizendo que eu não a seguisse que elas iam pra casa agora,
depois do susto.
Ah, meu amor, eu segui sim, eu fui sim até a parada de ônibus e eu perguntei de
novo a menininha se ela era mesmo a mãezinha dela?
Ela abriu o sorriso amarelo ainda de tanto que tremeu e disse: Janaína, minha
mãezinha, agarrando nos cabelos dela...
Mas eu só saí daquela parada de ônibus quando vi o ônibus que ela pegou.
Quando subiu para o ônibus gritou: - Tchau Simoninha... Eu tinha dito Simone e
não Simoninha...
Ela estava tão radiante... chorei tudo que o momento pedia...
Voltei a farmácia pra pegar minhas malas aos prantos, agora eu precisava de um
calmante, kkkk
Mas meu choro era de alívio, era de felicidade depois da agonia.
Coisas de Deus? Sorte? Destino? Em que pensar???
Eu tinha que chegar à rodoviária e não encontrar ônibus pra viajar, eu tinha
que vir de carona e pedir pra ficar naquela farmácia, naquele instante e achar
aquela menininha...
Não sei seu nome, sei que pegou o ônibus da Vila Kennedy, o mesmo que eu
pego...
Nem sei se nos encontraremos de novo, só sei que nunca mais esquecerei seu
rosto, seu abraço trêmulo e essa experiência de Deus que vivi hoje...
Tu és Senhor, o meu Pastor, por isso nada em minha vida faltará...
Menininha do meu coração, eu só quero você a três palmos do chão. Menininha, não cresça mais não, fique pequenininha na minha canção...
Simoninha Xavier
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