domingo, 21 de junho de 2020

SER BRUXA

O fio da vida vai unindo os seres, seja pelos pensamentos, que às vezes, um dispensa no outro e se mandam mensagens simultaneamente, seja ao ver a cor preferida do outro, um cheiro, uma música que te remete a um momento, enfim, as afinidades, os sentimentos se fundem e geram essa forte sintonia entre alguns.
Eu amo o sol, o céu, a chuva e seu cheiro, cheiro de mato, cheiro de mar, um mar imenso a minha frente, vaga-lumes que são do mato, mas teimam em surgir no meu quarto do nada, as plantas, a lua e o místico poder de viver. Alguém lembrar de mim, só por saber que gosto dessas coisas, fica reverberando aqui no coração. Tanta sintonia assim é de embaralhar-se.
Dia desses um amigo me disse que eu deveria aprender a ser benzedeira ou bruxa (não sabe ele que bruxa já sou), ao passo que no mesmo instante recebi o vídeo acima. Recebi porque esse vento, esse mato, esse fumacê saindo de dentro desse caldeirão, fez a pessoa lembrar de mim. Diga se não é de vibrar a fé no coração? Não estamos sozinhos nunca, somos encontros e sintonia.
De tão forte que foi, sonhei com minha benzedeira da infância, Dona Cotinha. Quando eu era criança e adoecia, minha vó me levava na casa dela para tirar os quebrantos. Ela que pegava seu galho de pinhão do roxo, um dente de alho amassado num paninho bem branquinho em estofo, ou com alfazema, chumaçando minha nuca, minhas costas, minha testa e meu colo. Eu passava dias sentindo o cheiro daquele alho, misturado com o fumaça que saía do fogão a lenha dela, ela tinha um caldeirão de barro, já preto de tanto queimar e do rolo de fumo, que eu via por ali. Era um cheiro misterioso mesmo, cheiro do bem, que podia até ser ruim, mas era um cheiro bom, cheiro místico da cura. Eu sempre queria ficar lá, ir embora era um problema. Minha vó não me deixava ficar, mas eu viveria no batente da cozinha dela pra sempre, perguntando como fazia aquilo, como podia ser tanta paz, como podia curar? Tinha muitas ervas e temperos, mas usava nos paninhos. Como podia ser remédio, sem ser de tomar?
Quando recebi o vídeo acima, vi e ouvi para curar mais uma noite que seria insone, ouvi repetidas vezes até adormecer.
Tinha passado um dia bem difícil, de saudade do meu pai, de amores perdidos, distantes e de estar longe do meu povo. Foi um presente divino, presente que cura, como era minha Cotinha, por isso que ela apareceu no meu sonho. Ela era uma bruxa. Eu achava aquela casinha um universo paralelo, para mim não era do mundo real. Ela ficava no fim de uma ladeira bem íngreme, eu ia descendo devagar, para ir passando a mão nos dentes de leão pelo caminho, nos pés dos tais pinhões roxos e curandeiros, nos pés de mamonas, margaridas, era uma ladeira barrenta, mas bem florida para colorir minha vida. Até chegar na portinha daquela casinha, eu ia guardando tudo para, sem nem saber, um dia contar ao mundo que eu conheci uma bruxa de verdade.
Sempre quis ser bruxa por isso e aqui estou. Há vintes anos, diante do crepúsculo, fui reconhecida pelo Mago Petrus como tal. Mística, fé, mistério, misturas, segredos, cozinha encantada, desejos, pensamentos, intenções, a alquimia dos quatro elementos da natureza me guiando e a conexão com as pessoas, é tão forte, como a que sinto pela pessoa que me enviou o vídeo. É a mesma sintonia que tenho com minha irmã gêmea de alma. Dá licença, que quero passar com o meu sincretismo. Fé, bruxaria, reza forte, terço, velas, simpatias e soprar canela no dia um de cada mês, eis-me aqui! Sei até fazer céu. Se faltar luz, sou mancomunada com vaga-lumes, garanto noites iluminadas/estreladas onde você quiser seja fora ou dentro de casa, sou dessas, baré, ba, cheba!

Não acredita? Isso é pura ficção mesmo, risos...
Simoninha Xavier

Um comentário:

  1. E se hoje não fosse essa estrada
    Se a noite não tivesse tanto atalho
    O amanhã não fosse tão distante
    Solidão seria nada pra você

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