quarta-feira, 8 de maio de 2013

TÃO LIVRE

Há anos leio o Dráuzio Varella e tinha a maior curiosidade de ver uma prisão por dentro.
Ver a cara dos presidiários. Se tinham mesmo caras de mau, como me olhariam, como eu os veria, se perceberiam meu temor, nem sabia se teria algum temor...


Hoje vivi uma das experiências mais incríveis da qual tenho lembrança nos últimos tempos...
Visitei a penitenciária de Caruaru, que tem como gestora uma mulher e como gestão modelo a ser seguido pelo país.
De cara fui muito mal recebida por um policial, dei meu nome, disse-lhe o que tinha ido fazer ali e que a diretora já me esperava. Ele me ignorou e foi fazer um lanche bem na minha frente... O esperei pacientemente, ele voltou perguntou novamente meu nome, repeti e ele chamou outra pessoa para me atender... Bem ele estava vestido de polícia, mas nenhum “bandido” lá dentro me tratou como ele...
Esperei novamente, quando chegou um agente, me levou a recepção onde recolheram meus celulares. Pedi pra ficar com o ipad, pois iria tirar fotos da Biblioteca, o recepcionista autorizou... O curioso é que nem revistaram minha bolsa, entrei com duas.
Subi uma escadaria que me levaria a sala da diretora, onde já havia uma fila grande de pessoas esperando-a e me identifiquei. O secretário me informou que aguardasse, me ofereceu café, água e inospitamente fiquei em pé a espera de ouvir meu nome.
Enfim escutei meu lindo nome e quando entrei fui recebida com tanta simpatia e doçura, que em meio aos documentos, ofícios, pessoas, telefonemas, ela me instruía sobre o funcionamento, criação e dificuldades da biblioteca.
Pediu para chamar outro agente que me levaria à biblioteca e aí começou de fato minha visita aquele lugar que me deixou mexida e encantada até agora. O Heitor (nome fictício) tinha um porte magro, alto, loiro, olhos claros e uma voz suave além de esboçar um sorriso largo, daqueles que aquecem a alma. Com a voz suave e esse sorriso de doer ia me mostrando a penitenciária e falando das peculiaridades de cada cantinho, de cada pavilhão, não sei como conseguia responder tantas perguntas, hi hi hi...
Eu ali diante de tudo que li nas escritas Drauzianas. Todos com caras tão normais, me desejando bom dia, assoviando ou insinuando olhares.
Por entre pavilhões, celas, setores e seres que circundavam minha mente curiosa há tempos enfim cheguei a biblioteca Mente livre... Livre de censura, livre de nãos, livre para voar, livre para saber, livre pelo livro.
Só não chorei de emoção ao sair daquela cela transformada em liberdade por que todo resto ainda era duro de ver...
Lá na penitenciaria existe um serviço de som, onde as pessoas fazem anúncios, avisos, mensagens, indicações de livros, etc. O meu guia sugeriu que eu deixasse alguma mensagem para os detentos, mas na hora travei. Fiquei tímida, não me veio nada na cabeça.
Mas eu tinha tanto pra falar...
Eu presa em minhas próprias limitações, enquanto eles livres em suas mentes...
Quando saí de lá peguei uma moto para ir trabalhar, perguntei o preço ao Senhor, ele falou, nem escutei o valor, subi e vim sentindo o vento como nunca havia sentido, montada na garupa. Chorei, chorei e chorei por ser tão livre...

Simoninha Xavier

Nenhum comentário:

Postar um comentário