quarta-feira, 6 de maio de 2015

QUEM ROUBOU O MEU RECIFE?

Como seria se destruíssem a torre Eiffel?
Como seria Veneza e Tailândia sem os seus canais navegadores?
É assim que me sinto. Tem alguém roubando minha cidade.

Tem gente roubando o meu Recife...
Todas as belezas deixadas, mesmo que não sejam originais da nossa gente, são belezas tombadas, se não pelo patrimônio histórico, pelos nossos olhos, corações e memória.
Tenho do Recife as mais belas lembranças de casarios, rios, pontes e as praias. Ahhhh as praias, que hoje morando em Caruaru, é de perto e de longe o que mais tenho saudades.
Outro dia soube que o Colégio que estudei também vai ao chão, dando vez a mais um condomínio de luxo.
Difícil é saber que aquele hospital rosinha da Boa Vista também tá nos planos dos empreiteiros. Ali poderia virar uma galeria, um centro histórico, desde que continuasse todo rosinha com bordas brancas, mas não, vai ser um novo Recife, um Recife que não quero.
Quando um turista vem a Recife, quer saber da sua história... E o que restará pra contar?
Ah, e tem um certo Cais do seu Estelita (era assim que eu o chamava intimamente) que hoje é o que mais perigo passa, pois na calada noite foi decidido que vai ser lufado.
Seus armazéns que por muitos anos se transformaram em casinhas coloridas estão prestes a virarem torres de construtoras dominadoras. Lá só a elite terá direito a brisa quente que o meu Recife tem, por que após esses empreendimentos não irá sobrar arestas para essa brisa passar, nem ao menos pro Coque.

Depois de Seu Estelita, vai ser o Cabanga todo, poderá ser Casa Forte, Afogados, Helio Monteiro! A Conceição, Benedito Araujo! Ou até o Chico City Rose Dawson!
Tenho medo pelas mangueiras de Tejipió, pois da manga rosa ainda quero o gosto e o sumo, além do cheiro que nos estonteiam.
A Caxangá, que era mais em linha reta, tenho certeza que hoje é a mais engarrafada...
Já pensou se cismam que nossos mercados públicos não servem mais? Adeus Macaxeira com carne de sol nas madrugadas após as baladas! Adeus arrumadinho nos almoços de sábado. Adeus sábados encantados no meu Recife.
Meus sobrinhos já não tomam banho de rio, como tomei.
Meu medo é que nem mar eles tenham para admirar.
Não têm quintal pra correr, a não ser o da casa dos meus pais, que resistem bravamente as investidas tentadoras dos poderosos Queiroz e Dubeaux...
Estou longe para ocupar o Estelita, mas peço: alguém me represente! Eu imploro!
Ocupem a cidade!
Ocupem o Recife, não deixem que o vendam!
O Recife tem que continuar a ser nosso. Ele hoje é minha história, minha lembrança, mas precisa ser também das gerações que virão...
Seja no carnaval, seja na Festa da pitomba ou mesmo numa simples visita ao Horto de Dois irmãos, o que o Recife precisa é ser cuidado e não devastado.
Precisamos andar nos livrando apenas dos oitis nas nossas cabeças nas ruas da Boa Vista e das calçadas esburacadas que nos nocauteiam pelas ruas da Unicap... Quem nunca? ....E não das pessoas que serão banidas desse Novo Recife.
Tenho rios de esperança de que os Capibaribe e Beberibe sejam recuperados, ainda dá tempo, basta planejamento e ação
.
Estou em Caruaru, mas sou do Recife, com orgulho e com saudade.

SOU DO RECIFE HOJE COM VONTADE DE CHORAR...


Simoninha Xavier

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