O EPISÓDIO DA LAGARTIXA

Argh!!!!

Viajei como de costume todo fim de semana.

Voltei no sábado , sábado lindo meio chuvoso, daqueles que esconde a lua que está por ficar cheia.

Chegando em casa, ufa...enfim...

Mas tinha uma faxina...

-Acho que vou deixar para amanhã, estou tão cansada, e assim o fiz.

Fui ouvir música, em meio aos meus CD'S estava lá o vestígio dela...Um cocô preto com uma tirinha branca.

-Deve ter uma criatura daquelas por aqui, logo pensei.

Acionei Chico Cesar bem alto para me fazer esquecer, de que no meu AP, eu não estava sozinha, tinha uma criatura por lá.

Dona do dom que Deus me deu, é só pensar em você, que muda o dia... A musica ia rolando..Estas frases podem soar como poesia numa canção, mas naquele momento tudo era pesadelo no meu pensamento.

Meu dia, ops, minha noite já começava a ser um tormento.

Depois de um banho quentinho, um suco de maracujá(feito propositalmente para efeito calmante e sonífero) eu adormeci. Ainda pensei na criatura, poderia pensar no meu amor...poderia...zzzzzzz

E o domingo chega! Acordei e percebi que não tinha mantimentos para o meu almoço e lá fui eu atrás da guarnição, fui ao supermercado.

Havia esquecido da criatura...

Voltei, fiz um almoço digno de um domingo, e mais uma vez adormeci, estava sentindo muita dor, minha coluna parecia tesa, mas adormeci.

Quando retornei ao por-do-sol, quis dessa vez ouvir Jorge Vercilo, e assim o fiz, coloquei o homem pra me dizer coisas lindas.

fiquei ali curtindo o domingo que agora é precioso para mim.

" Sem querer, me peguei tentando te encontrar, por te amar demais sofri... e...

LAPT..ai ai ai!

medo, grito, tremor, horror,

Tenho que me tomar de força, estou sozinha...

E foi assim travada a batalha.

A criatura, sem armas, sem cor, com rabo e garras pegajosas, ali me desafiando no segundo andar, o ultimo de um prédio, que há quatro anos me instalei, num AP lindo que é a minha cara.

A força dela era a indiferença, isso só aumentava meu pânico, cada vez que tentava empurrá-la, batê-la, massacrá-la (nossa! o ser humano se torna capaz de matar em segundos) com todo meu medo e minha ira.

Era eu e ela, numa noitinha chuvosa, onde poderia estar vendo um filme, mas não estava eu travando a luta. Tinha que ser ou EU ou a CRIATURA.

Álcool, fósforo, meu Deus! meu AP pode pegar fogo...

Vassoura, pá, um janelão e nada.

Ela persiste na sua indiferença cheia de terror.

Tremor, medo, pânico, ainda estão em mim, quem vencerá?

Há quatro anos não lembro de experiência pior no meu ninho.

Um ser desprezível, que todos dizem não fazer mal a ninguém, me fez todo esse.

A batalha chegou ao final, finalmente.

Um janelão lindo, impedido de deixar o vento delicioso entrar, que fica fechado,

uma lagartixa na varanda do 003 espragatada...

No 203 o tremor, a minha ofegante respiração e o alívio da minha vitória...

Simoninha Xavier